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Publicação 3

Depois do tsunami de falta de graça que varreu o Oscar do ano passado, capitaneado por um picolé de chuchu chamado Neil Patrick Harris, eu esperava uma cerimônia mais divertida na madrugada de segunda, quando Chris Rock voltou ao comando da festa depois de 11 anos. Me enganei. O que se viu foi uma das transmissões mais tediosas e soporíferas, com quase quatro horas de piadas ruins em um clima paranoico de correção política.

Todo mundo já esperava uma cerimônia “politizada” devido ao boicote de alguns artistas e diretores negros, como Spike Lee e Will Smith, que protestaram contra a ausência de indicados negros. Mas Chris Rock exagerou. Seu monólogo de abertura sobre relações raciais e o preconceito de Hollywood foi muito bom e corajoso, mas os textos foram perdendo a graça à medida em que os temas se repetiam.

Isso parece ter contagiado os vencedores dos prêmios, que se revezaram em defender suas causas prediletas diante de um público televisivo estimado em 900 milhões de pessoas.

A diretora do melhor documentário em curta-metragem, “A Girl in the River”, falou da violência contra as mulheres no Paquistão; um dos diretores de “Divertidamente” (que bateu o brasileiro “O Menino e o Mundo” na categoria melhor longa de animação) mencionou bullying nas escolas; o cantor Sam Smith, vencedor pela canção “Writing’s on the Wall”, do filme “007 contra Spectre”, dedicou seu prêmio à comunidade LGBT, e até o Chile foi lembrado, quando os diretores do curta de animação “Bear Story” disseram que aquele era o primeiro prêmio “do pequeno país de onde viemos, o Chile”.

Os astros da noite, claro, não perderam a chance de usar o palco de palanque. O mexicano Alejandro González Iñárritu (“O Regresso”), bicampeão do Oscar, citou em seu discurso os povos indígenas e disse que sonhava com um mundo “onde a cor da pele de uma pessoa não importava”; Lady Gaga cantou uma balada xaropenta sobre abuso sexual e depois foi cercada por vítimas de agressão sexual em escolas e universidades, enquanto muita gente da plateia chorava assim que as câmeras da TV se aproximavam. Para finalizar, Leonardo DiCaprio, que finalmente ganhou seu Oscar de melhor ator, deu sua aulinha particular sobre uma das poucas causas que ainda não tinha sido citada na noite: o aquecimento global.

Um dos poucos apresentadores que não se deixou contaminar pelo clima de fanatismo PC foi o grande Sacha Baron Cohen. Na pele do rapper Ali G, ele fez duas das melhores piadas da noite, quando reclamou da ausência, entre os indicados, “daquele povo pequeno e amarelo com pintos pequenos… os Minions”, e “do extraordinário ator negro de ‘Star Wars’… Darth Vader”. A plateia riu, constrangida.

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