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Publicação 2

José Mojica Marins dirigiu mais de 40 filmes, apresentou programas de TV e teve seu próprio gibi. Mas sua maior obra é mesmo sua vida.

Filho de um toureiro/gerente de cinema e de uma dona de casa/cantora de tangos, nasceu na Vila Mariana, em 13 de março de 1936. Uma sexta-feira 13.

Aos oito anos, ganhou uma câmera 8 mm e começou a fazer filmes com os amiguinhos do bairro. Aos 13, fez seu primeiro filme de terror. Seu estúdio era um galinheiro em Vila Anastácio, bairro proletário paulistano onde ficava o Cine Santo Estevão, pequeno cinema gerenciado por seu pai. A família morava nos fundos do cinema. Foi lá que José viu os clássicos de terror da Universal, viu Drácula, Frankenstein e o Lobisomem, viu Bela Lugosi, Boris Karloff e Lon Chaney, Buck Rogers, Chaplin e lindas histórias de caubóis que atiravam em índios.

“Naquela época, a gente nunca imaginava fazer cinema no Brasil”, dizia Mojica. “Aquilo era tão impossível quanto construir um foguete e ir pra Lua”.

Mas Mojica fez cinema no Brasil. O seu cinema. Se existe um cineasta brasileiro que pode ser chamado de “independente”, é ele. Foi contemporâneo de muitos movimentos e estilos – chanchadas, Atlântida, Vera Cruz, Cinema Novo, Boca do Lixo, pornochanchada – sem se agarrar a nenhum deles. Nunca fez parte de grupos ou panelas. Até 2008, quando dirigiu “Encarnação do Demônio”, não havia recebido um tostão do governo.

Mais que um cineasta, Mojica foi uma celebridade. No fim dos anos 60, era o cineasta mais popular do país. Havia dirigido três filmes de terror de grande sucesso comercial – “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1964), “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” (1967) e “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1968) – além de dois programas de TV, “Além, Muito Além do Além” (TV Bandeirantes) e “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (TV Tupi). Zé do Caixão se tornara uma marca famosa, estampada numa conhecida linha de cosméticos chamada “Mistério”, em uma cachaça (“Marafo Zé do Caixão”) e num bizarro consórcio de compra de caixões. O personagem gravou marchinhas de carnaval (“Castelo dos Horrores”, 1969), foi tema de revistas em quadrinhos e apelidou o VW 1600, um carro que a Volkswagen lançou no fim de 1968 e que, por suas formas retangulares e semelhantes à de um esquife, acabou batizado com o nome do personagem. Zé do Caixão era uma espécie de Xuxa do mal.

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