Inicio / Homaranha / Publicação 4

Publicação 4

Fiz uma entrevista com grande Lionel Richie para a “Folha” (leia aqui).

Richie, 66, estreou ontem sua nova turnê brasileira, no Teatro Positivo, em Curitiba. As datas incluem ainda Rio de Janeiro (8 de março, na HSBC Arena) e São Paulo (9 de março, no Ginásio do Ibirapuera). É a segunda turnê brasileira do cantor, que já esteve por aqui em 2010.

Como o papo não coube todo no texto, aqui vai a íntegra:

Em 2010 o senhor tocou pela primeira vez no Brasil e volta agora, seis anos depois. Como será o repertório dessa nova turnê em comparação com a de 2010? 
Sim, você está certo, aquela foi minha primeira vez no Brasil. Eu disse, à época, que havia demorado demais para ir ao Brasil, e era verdade. Agora volto, seis anos depois, e não acredito que estarei no Brasil. Eu amo o Brasil, amo as pessoas, a comida, a música e a diversão. O Brasil é contagiante. Sempre me pergunto por que demoro tanto a voltar!

E o repertório? Terá algumas surpresas?
Olha, com certeza vamos adicionar mais músicas, mas não é uma tarefa fácil fazer o repertório de meus shows. Tenho duas horas e meia a três horas de canções que todo mundo conhece e quer ouvir no show, então selecionar o setlist perfeito é muito difícil. E o público quer ouvir aquelas mesmas canções de novo e de novo, as pessoas nunca cansam de ouvir suas preferidas. Ninguém me perdoaria se eu deixasse de fora “Three Times a Lady”, “Hello”, “Say You, Say Me”, “Easy” ou “All Night Long”: Mas a maior surpresa nunca é o show que fazemos no palco, mas a plateia cantando todas as canções junto comigo. Meu show é como um karaokê gigante!

Seu álbum mais recente, “Tuskegee”, chegou a número 1 das paradas norte-americanas. O senhor ficou surpreso com isso?
Falando do ponto de vista de um artista que ama ter músicas no número um das paradas, posso dizer que já esperava, porque acreditava no disco, mas quando ele chegou a número 1 e ficou no topo por algumas semanas, foi a cereja no bolo. E pelo fato de ser um álbum de country, com duetos com artistas de country [o disco traz antigos sucessos de Richie em duetos com 13 artistas famosos da música country norte-americana, como Shania Twain, Willie Nelson e Blake Shelton], nos fez chegar ao topo da parada de música country, que tal? Isso mostra que música não deve ser colocada em categorias. Se o público gosta das músicas, vai comprar, não interessa se é country, música clássica, jazz ou pop. O que importa são as melodias. E se o povo gostar das melodias, vai comprar seu disco.

O senhor passou por inúmeras fases da indústria musical, dos dias de glória da Motown à era do Spotify. O que mudou na indústria nesse tempo?
A única coisa que mudou de verdade é que não podemos mais monetizar a composição de canções. Hoje, se você é só o compositor, não ganha nada. É uma tragédia não poder viver mais da venda de discos. Quando jovens artistas me pedem dicas de carreira eu tento explicar que sou um compositor, mas também sou um artista e posso cantar em meus shows, e é assim que sobrevivo. Nesse novo modelo, é difícil monetizar seu talento como compositor, e isso me preocupa. Gostaria que os jovens compositores tivessem as mesmas oportunidades que eu tive.

Em 2015, o senhor fez um show memorável no festival de Glastonbury, na Inglaterra. Como foi?
Aquilo foi uma festa-surpresa para Lionel Richie! Não tinha ideia de que 150 mil pessoas iam aparecer, tanta gente vestida como eu, tantos penteados afro na plateia. Antes do show, disseram que ia cair um temporal e que seria o show mais enlameado da história. Cheguei lá, o sol estava brilhando, havia 150 mil pessoas, um monte de gente vestida que nem eu, e as 150 mil pessoas cantaram todas as músicas. Nunca vou esquecer esse show. O público era muito diversificado, havia fãs de sete a setenta, todo mundo cantando e dançando. Foi provavelmente o maior tributo à minha carreira que já recebi.

Li que o senhor é muito popular em países árabes, e que planeja um dia se apresentar em Bagdá…
Sim, é verdade. Nos anos 70, 80 e 90, minha música chegava muito ao Oriente Médio, mas eu não sabia como tinha chegado lá. Não tocava em rádios árabes, mas tornou-se incrivelmente popular. Isso ainda me surpreende. Toda vez que vou a Abu Dhabi ou Dubai, as pessoas me contam histórias de como casaram ouvindo minhas músicas, iam à escola ouvindo minhas músicas e aprenderam inglês ouvindo minhas músicas, Espero um dia, assim que as situações de conflito no Oriente Médio acalmarem, poder tocar em Bagdá e outras cidades. Tenho muitos fãs que vivem em áreas que estão passando por guerras ou conflitos, e amaria tocar para eles. Meus fãs árabes merecem.

Recentemente, tivemos a última edição do Grammy. Que artistas jovens lhe impressionam?
Acho que Adele tem feito um trabalho incrível, e chegou ao ponto da carreira em que é muito reconhecida. Bruno Mars é outro artista muito bom. E Kendrick Lamarr está surgindo como um rapaz de enorme talento. Também tenho de dizer que Demi Lovato me impressionou com sua versão de “Hello”, ela arrasou na gravação. No mundo da música country temos Luke Bryan, que é muito talentoso. Ah, e não poderia esquecer The Weeknd. Vamos dar mais três álbuns para ele e ver do que é capaz…

O que o senhor acha da música pop contemporânea?
Passamos por um período, há alguns anos, em que tudo era basicamente sampleado de músicas antigas, e com isso perdemos um pouco a criatividade. Era uma solução esperta, mas os artistas estavam tomando emprestado de músicas originais e perdemos a noção do que era original e novo. Mas acho que estamos voltando ao ponto de vermos artistas criativos, e não artistas criados. Weeknd, Bruno Mars e Adele estão escrevendo suas próprias músicas. Elas podem ter o clima e o sentimento de canções antigas, mas são criações novas, e isso é muito bom.

Como sua música sobreviveu e continuou tão popular por todos esses anos?
Minha música fala de acontecimentos do dia a dia e traz histórias e frases que nunca sairão de moda. Dizer “I love you” (“Eu te amo”) nunca sairá de moda, ou “Please don’t leave”(“Por favor não vá”), “All night long” (“a noite toda”), “Easy like Sunday morning” (“Tranquilo como uma manhã de domingo”). São frases que você diz todo dia de sua vida, de alguma forma. Essas histórias ainda se aplicam hoje e se aplicarão por gerações e gerações. Lembre-se: o amor nunca sai de moda!
4
P.S.: Estarei em viagem hoje e amanhã. O blog volta com um texto inédito na quarta, dia 9. Até lá.

Deja una respuesta

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *